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Primeira publicação do grupo de pesquisa em Astrofísica Estelar Observacional 

Nosso Sol é uma estrela especial ou apenas mais uma dentre tantas outras? Essa pergunta vem intrigando cientistas por séculos. Desde a conjectura feita por Copérnico de que o Sol é uma estrela medíocre sem qualquer particularidade que a torne singular entre as outras, a ciência vem corroborando essa tese.  Inúmeras indagações são feitas e desfeitas sobre a verossimilhança entre o nosso Sol e as estrelas ditas análogas, gêmeas ou irmãs a ele. Por outro lado, outros cientistas e adeptos acreditam que o Universo conspira a nosso favor e consideram o Sol e a vida na Terra como joias raras esculpidas para homenagear a espécie humana.

Um passo a mais para a resposta desta questão foi dado em On the Incidence of Wise Infrared Excess Among Solar Analog, Twin, and Sibling Stars, um pioneiro estudo publicado recentemente na renomada revista científica Astrophysical Journal (ApJ), que estende essa problemática para o campo de pesquisa em exoplanetas (também denominados como planetas encontrados fora do sistema solar), usando imagens capturadas pelo telescópio espacial da NASA conhecido como WISE (sigla em inglês para Wide-field Infrared Survey Explorer). As imagens geradas pelo telescópio podem ser usadas para enxergar detalhes minuciosos da poeira que circunda a estrela em temperaturas tão baixas quanto a da Terra (27oC) e do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter (ver figura abaixo).

(Ilustração destaca a região do Cinturão de Asteroides entre Marte e Júpiter.
Créditos: Huffington Post)

Assim como encontrado em nosso sistema, cinturões de asteroides são comuns entre outras estrelas. No entanto, deve-se levar em conta a idade da estrela: aquelas mais jovens que o Sol (~4.5 bilhões de anos) ainda mantêm seu disco de poeira vivo. É importante notar que tal disco pode se condensar e formar planetas, processo similar ao sofrido pelo Sistema Solar. Nesse contexto, a investigação acerca do excesso do infravermelho estelar é um importante caminho para o entendimento da natureza e evolução do disco de poeira que está ao redor da estrela (ou apenas disco circumestelar). A partir da figura abaixo, extraída do referido artigo, nós temos uma ideia da ciência que pode sair dessas imagens.

Em particular, a estrela HD 86087 apresenta uma característica muito especial,  a temperatura do seu material circumestelar é similar a do nosso cinturão de asteroide, mas com uma particularidade de estar a uma distância sete vezes maior do que o nosso cinturão e o Sol (para maiores detalhes sobre essas imagens recomendamos acessar ao artigo na versão gratuita – https://arxiv.org/pdf/1611.02250.pdf – ou também pela página da ApJ pelo link: http://iopscience.iop.org/article/10.3847/1538-4357/837/1/15/meta). As  imagens à esquerda denotam o excesso de infravermelho em quatro bandas de energia e a figura da direita é o confronto entre os dados observacionais e o modelo físico que representa a estrela como um corpo negro. Com base nessa última figura, notamos uma  saliência ou cauda que expressa quantitativamente o excesso de infravermelho.

Em um esboço geral, o estudo sustenta a ideia de que o sistema solar apresenta propriedades peculiares na sua formação que difere fundamentalmente dos outros sistemas estudados no presente trabalho. Essa importante conclusão aponta para um cenário intrigante: estrelas com propriedades físicas similares ao nosso Sol, como é o caso das gêmeas solares, podem diferir muito daquelas encontradas no Sol quando consideramos o ambiente e o clima do sistema planetário. Isso significa dizer que a poeira em volta da estrela também representa um fator fundamental que destaca o Sol e o Sistema Solar como espécies únicas em nossa Galáxia.

Prof. Dr. Daniel Brito de Freitas, professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará e co-autor do artigo juntamente com professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do ESO (European Southern Observatory). Prof. Daniel lidera o grupo de Astrofísica Estelar Observacional da UFC.

 

http://www.fisica.ufc.br/wp/?p=5019

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